Continuo a ser professor porque gosto deles e os quero, aos ‘’maus alunos’’. Àqueles mesmo maus, em que a maldade que lhes é assinalada parece quase como um raio, desfrechado pelo céu em cólera, para os atingir antes mesmo de existirem na vontade de seus pais.
Fiquem vossemecês com os bons, aqueles dóceis meninos de lacinho ao pescoço e bibe de cambraia, bem amestrados, que reproduzem tudo o que dizeis e ainda, talvez, vos ofereçam ramos de rosas.
Eu quero aos maus. Quero aprender também.
Quero compreender porque são maus. Não creio nas mentiras dos tratado em voga. Aqueles que, recorrendo à ‘’ciência’’ da moda, que já analisou e caracterizou a maldade, atribuiu aos ‘’maus’’ alunos a maldade transversal da pessoa. Que mitigam o remorso de consciência porque já provaram que os ‘’maus’’ alunos são más pessoas, trazem a maldade inscrita no código genético, ou social.
E sei que a ‘’ciência’’ é muito árdua para contestar, armadilhada e couraçada com requintes de argumentos intrespassáveis, onde converge a genética, a neurologia a assediar a psicologia e a etnografia, a sociologia, enfim, um concerto de cordas bem afinadas. Por isso, os ‘’maus alunos’’ são como os cavalos maus ou os cães traiçoeiros, sempre prestes a ‘’morder a mão do dono’’.
Mas eu quero-os porque sei porque são ‘’maus’’.
Fiquem pois vossemecês com os bons. E dêem reguadas e caneladas nos ‘’maus’’. Coloquem-lhes uma estrela amarela na lapela.
E deixem-me ficar com eles. Porque acredito que são os melhores, simplesmente. Porque para lá de eu querer que sejam bons, me ensinam a compreender como a sociedade e a escola produzem os bons e os maus e retalham a humanidade.
Eu amo os ‘’maus’’ alunos. Os bons têm a benesse de amores que sobejam.
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